Vigésimo quarto escrito
Que que vem, né gente? É ótimo esse incenso novo, mas ele queima muito rápido, eu acho. A grande indústria de incensos querendo me fazer voltar logo à loja dos orixás aqui da galeria em frente. Periga dar certo. Tenho que passar na loja de grãos a granel que é na mesma galeria. E na Nissei ali ao lado.
Hoje no banho tentei mapear o horário de início e término dessa frente fria. Porque hoje abriu uma nesga de sol e esquentou um pouco. Nada muito, mas um alívio desenrolar o cachecol, quem sabe até tirar o casaco. Tem início, meio e fim essas coisas? Meio dia na estação-tubo Fernando de Noronha tudo começou a desandar. Na quinta isso. E veio bem feio. Com rajada de vento, com chuva forte de lado, destelhando aqui, alagando ali. Gás, correios, cartório, fora o próprio ônibus. E daí só ladeira abaixo. O ponto mais feio no domingo. E outro na quarta. Na quinta o perigo da resignação. E como veio num meio-dia passou com o sol a pino na outra sexta. Oito dias inteiros sem pegar sol, sem tirar casaco, com as articulações doendo. Com tempestades eventuais.
E fica a bagunça. Os galhos de árvores, as telhas, as sujeiras e as cicatrizes. Algumas coisas se perdem e não voltam igual. Em cada frente fria algo bonito nosso fica pra trás. A gente volta, mas parece que um pouco pior - viva, forte, peito erguido, mas trazendo um cinismo muito específico, um resto exato e tão pequeno. Talvez ainda esteja cedo para eu falar sobre o que sobra de mim após esses temporais. A calma e o brilho do sol ainda têm como cenário calçadas molhadas, lama e uma bagunça que não dá pra deixar de ver. Mas força.