Caderno de tanto

Trigésimo quinto escrito parte um

Vinte e dois de setembro. Sharon van Etten me lembrando da fragilidade das coisas. Da saudade que eu senti desses momentos, da caneta vermelha. Ela me traz de um jeito estranho aquelas noites geladas e vazias em Pelotas, também com meia-luz, só que da luminária de mesa, ouvindo quase que obsessivamente o doce segundos de oscuridad do Jorge Drexler. Tantas músicas e meias-luzes e frios diferentes de lá pra cá. Lembranças de dias em que minha vida era feita de quases melancólicos, aqueles impossíveis que, eu não sabia, precediam o inevitável. Mas para chegar ao inevitável tinha muita coisa ainda – tinha a abertura nunca plena para a fragilidade e perda de controle, para amores que rimariam demais com dor, para flores do mal que me puxavam de volta antes que o inevitável viasse a meu encontro, não sei se foi naquele ano novo, se naquela conversa difícil na sala, se na piscina da Cris, se onde. Mas sigamos plantando sementes, Maria, vai que dessa vez nascem sonhos que atravancam o trânsito. E meias-luzes, cheiros, timbres, ideias, movimentos. Épocas em que o corpo se move pela cidade de jeitos diferentes, sempre escolhendo ser o perigo para não ser vista pelo perigo, do Quadrado do cais do porto pelotense à ruína da Barão do Rio Branco, da blusa em segredo à tatuagem bem exposta, do impossível ao inevitável.