Caderno de tanto

Décimo quinto escrito

Manhã de sábado. Mais um caderno chegando a seus finalmentes neste 2025. É o quarto ou quinto a se juntar de forma estranhamente intrusiva à praeleira térrea da minha estante onde REPOUSAM tantos cadernos cujo peso é feito de croquis e desenhos, não de escritos – modalidades de expressão que dizem alguma coisa sobre momentos da vida. Alguma coisa, o quê eu não faço ideia. A busca por uma vaga ideia de ordem e rotina em dias em que tudo fica completamente bagunçado, nesses dias tão estranhos em que fica poeira se escondendo pelos cantos, é uma necessidade ao mesmo tempo em que uma pequena agressão. Equilíbrios? Abraçar o caos? A dialética em que o que dá sentido ao mundo são os instantes de ruptura, justamente porque a regra é a ordem. Amar o carnaval é então amar a ordem que lhe dá seu verdadeiro sentido – senão não haveria o que romper. Só que quando a ruptura não estava combinada parece que resultam minhas mãos tateando na bagunça pra se apegar ao que tenha restado de uma ideia de ordem. E sei lá eu se isso é bom ou ruim. Não se resignar parece bom, não entender parece ruim. Como lider se não admito a condição? Mais um café. O terceiro. Mas agora é o café pós-almoço. Hoje fragmentos. Não só este escrito – tudo hoje é feito de fragmentos. Que se encaixam muito mal, ou que a gente força a tentar encaixar pra tentar ainda ver alguma ordem. Pra não embirutar de vez, quem sabe. A ilusão autoimposta é da fragilidade de uma miragem, se bem que miragem seja uma péssima escolha de analogia, bom, era frágil, sem tempo ou espaço pra figuras de linguagem a bordo do Engarrafamento Permanente de Itajaí. No fim foi tudo mais sobre saber abraçar os momentos em que a paz foi possível, o que também é uma forma de abraçar o caos – nossa, ela está dialética hoje. Acho que afinal toda ordem é uma ficção, no sentido mesmo de que ordenamos as coisas que existem para que elas façam algum sentido, talvez só para que consigamos dormir à noite. Toda rotina tem algo de forçação para que aqueles eventos se conectem, para que observemos padrões, e para que assim consigamos ter a impressão de não estar no caos. São coisas em que a gente escolhe acreditar para ter algum conforto nesse mundo e em nossos próprios corpos. Pensando aqui que aquela ideia toda de sossego talvez encontre um lugar mais adequado numa caixa em que se lê conforto. É outra escolha de ordenamento, eu sei. É isso que a gente faz. Encontrei conforto nos breves momentos de paz que simulam um mundo em que não vivemos, um mundo tranquilo, em que é possível sentar na sala, abrir uma cerveja e falar do doutorado, e derivar pra grandes aspectos filosóficos, sociológicos e políticos do nosso tempo. Como se isso fosse possível, como se isso fizesse sentido. Como se a vida pudesse ser isso. Comprar um tênis na decathlon como se. Entrar no bumble como se. Escrever como se. Amanhã cedo se tudo der certo recomeçar a corrida depois de dez dias de tortura climática com minha playlist nova como se.